Fiz concurso para médico no Rio (Centro Psiquiátrico Pedro II). Depois, por vocação, continuei ligando-me aos oprimidos. Aí, fui para a cadeia, passei um ano e quatro meses presa, sem processo, sem qualquer acusação e defesa. Isso apenas pelo fato de ter livros e ligações com pessoas da esquerda. Minha reação é de total revolta contra as ditaduras.
Algumas [companheiras de cela] eu já conhecia. De outras, me tornei amiga na prisão. Maria Werneck faleceu há pouco tempo. Eneida Valentina Barbosa Bastos, uma pessoa de alta inteligência! Elisa Berger, grande mulher, corajosa, culta, tinha o leito junto ao meu. Olga Prestes foi para a Alemanha em estado de gravidez para ser entregue aos criminosos nazistas. Por ser judia, terminou no forno de gás. Elisa, por ser alemã, foi decapitada.
Nós [referindo-se a Graciliano Ramos] nos entendíamos muito bem, éramos afins de temperamento. Depois da prisão, sempre nos visitávamos. Amizades feitas em cadeia permanecem firmes.
NISE DA SILVEIRA | Fragmentos de entrevista concedida à Dalma Nascimento em 1995
➡ A entrevista completa pode ser encontrada no livro:
Antígonas da Modernidade - Performances femininas na vida real ou na ficção literária. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013.
Fotos: Ocupação Nise da Silveira (2017/2018)
 


 

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