compostagem - Adubos e utilização de compostos a partir do lixo urbano
Adubos e utilização de compostos a partir do lixo urbano
A
recomendação do uso da palha se dá, especialmente, porque isto nós
temos no campo e não precisamos trazer de lugar nenhum. Em propriedades
pequenas, em horticultura é perfeitamente viável o uso de outros adubos
orgânicos, que são bem mais eficientes do que a palha propriamente dita.
O
conteúdo dos biodigestores é um adubo ótimo. E me perguntam: “mas este
adubo foi criado sob condições anaeróbias”. Não faz mal, pois no momento
em que este adubo consegue entrar em contato com a terra, as bactérias
anaeróbias morrem e ficam as aeróbias. Também o esterco bem curtido é
curtido em condições anaeróbias, e quando é posto no campo tem um efeito
maravilhoso.
Todos esses adubos são bons, como por exemplo o
lixo urbano. O lixo urbano está sendo encarado, parcialmente, com
receios por causa dos elementos pesados que podem existir nesse lixo.
Mas só sei que em toda a Europa se usa lixo urbano e nunca ninguém teve
nenhum problema com isso. Por quê? Porque uma planta bem nutrida e sadia
tem poder seletivo de absorção. Ela perde este poder seletivo no
momento em que fica fraca. A fraqueza da planta não é dada no momento em
que eu aplico o adubo orgânico, que favorece o desenvolvimento e a
autodefesa da planta. E fora isso, normalmente, se separa o lixo: estas
fábricas que produzem o adubo orgânico de lixo urbano tiram fora o
papel, as garrafas, as latas, e utilizam as partes de alimento para
fazerem ração para o gado e a parte que finalmente se destina a adubos
compostos já é bastante limpa e a quantidade de elementos que podem
contaminar este adubo não é muito grande.
Este adubo está sendo
utilizado há dezenas de anos na Europa e os problemas, por enquanto, não
apareceram, pelo contrário. De modo que nós temos sempre que
diferenciarmos uma planta malnutrida que não tem o poder de selecionar
os nutrientes que está absorvendo, de outra planta que está bem nutrida,
sadia, que tem o seu poder de absorção seletiva.
Os americanos
dizem que as plantas que não possuem mais este poder, especialmente
plantas que são muito pobres em cálcio, possuem a parede citoplasmática
(a membrana celular) furada; uma planta normal não tem esta barreira
citoplasmática furada, não entra tudo. Conhecemos ainda muitas plantas
que absorvem elementos pesados mas depois acumulam esses elementos na
raiz e não os transportam mais para as folhas. Fiz uma pesquisa com
mio-mio, que é uma planta tóxica: em terras muito ricas em molibdênio,
ela cresce muito bem porque tem a capacidade de armazenar o elemento na
raiz e não o transportar para a parte aérea. Então ela consegue crescer
nessas terras onde outras não conseguem e se desenvolve bem.
Existe
absorção passiva (do cálcio na ponta da raiz, logo acima da coifa) e
ativa (metabólica) com envolvimento de carregadores, cargas elétricas e
intensidade de carga - por exemplo, as leguminosas com alta CTC
(capacidade de troca catiônica) tem absorção preferencial de Ca, e as
gramíneas de baixa CTC de K, basicamente.
Normalmente, alguns íons metálicos são retidos na raiz (vão pouco para a parte aérea) e outros têm mais facilidade de absorção.
Outro
problema seria o acúmulo de nutrientes nos tecidos foliares por causa
de problemas de distribuição acionados por processos metabólicos.
Certamente plantas bem nutridas, tendo um metabolismo equilibrado e
fluente, não sofrem desses problemas. E plantas mal nutridas, com vários
processos paralisados ou reduzidos, podem sofrer de acúmulos
indesejados e intoxicações. Tanto minerais como substâncias orgânicas.
A grande questão é pontuar: o que é bem nutrido? Bem verde, rico ou excesso de N?
Os
defensivos aplicados nas plantas bem nutridas (com ótimo balanço
mineral e raízes vigorosas) em princípio não precisam ser aplicados, mas
quando aplicados em plantas mal nutridas, congestionam os processos
metabólicos da planta sobrecarregando-a, e prejudicam-nas.
Então,
o lixo urbano em geral pode ter metais pesados (de pilhas e lamadas de
mercúrio, venenos caseiros, etc.) e plásticos (é certo que plástico é
material orgânico sintético, mas precisamos da matéria orgânica
natural).
O lodo de esgoto também passa por isso de metais
pesados. E estercos de galinhas e animais confinados em geral têm
antibióticos e outros químicos, que, quando absorvidos pela planta,
precisam ser metabolizados, sobrecarregando o sistema.
As chuvas
e as águas subterrâneas hoje em dia carregam muitos poluentes que
sobrecarregam as plantas deficientes e menos, ou não, as sadias.
Inclusive sistemas orgânicos rodeados de sistemas agrícolas
convencionais recebem cargas de venenos em dias de vento e nas
aplicações aéreas.
Texto retirado do site:
https://anamariaprimavesi.com.br/
Imagem: Teledetritus.
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